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Rumo ao ENEM: A Força dos Pré-Vestibulares Comunitários nas Favelas do Rio

A desigualdade social no Brasil se expressa de forma contundente no acesso à educação. Jovens de favelas e periferias do Rio de Janeiro enfrentam, diariamente, barreiras estruturais, econômicas e simbólicas para ingressar no ensino superior. Nesse contexto, os pré-vestibulares comunitários e autônomos surgem como potentes ferramentas de transformação social, oferecendo não apenas aulas preparatórias para o ENEM e vestibulares, mas também espaços de resistência, empoderamento e construção de cidadania.


Como a educação desigual limita o futuro de jovens periféricos e favelados


Jovens que crescem em favelas e periferias enfrentam uma série de desigualdades estruturais que afetam diretamente seu acesso e permanência na educação. A localização geográfica, por si só, já pode representar um obstáculo: muitas vezes é necessário enfrentar longos trajetos, transporte precário e até situações de risco para chegar à escola. Além disso, escolas dessas regiões costumam ser mal equipadas, com salas superlotadas, falta de recursos tecnológicos e baixa valorização dos profissionais da educação.


Outro fator crucial é a necessidade de conciliar os estudos com responsabilidades familiares e o trabalho informal. Muitos desses jovens precisam trabalhar desde cedo para ajudar nas despesas de casa, o que limita o tempo disponível para estudar e participar de atividades extracurriculares — fundamentais para uma boa formação e para competir em pé de igualdade nos processos seletivos das universidades.


A vivência cotidiana da violência, tanto policial quanto da criminalidade, também impacta profundamente a saúde mental desses estudantes. Muitos carregam traumas, medos e inseguranças que dificultam o foco e a continuidade dos estudos. Além disso, o racismo e o preconceito social, muitas vezes internalizados, fazem com que esses jovens duvidem de suas próprias capacidades.


A importância dos pré-vestibulares comunitários


Muitas escolas carecem de estrutura adequada, material didático atualizado, professores em número suficiente e, principalmente, de políticas que considerem as especificidades sociais dos alunos. Isso compromete diretamente a preparação para o vestibular, que exige não apenas domínio dos conteúdos, mas também repertório cultural, senso crítico e equilíbrio emocional.


É nesse contexto que os cursinhos populares ou comunitários se mostram fundamentais. Eles surgem como resposta solidária e coletiva à exclusão educacional, oferecendo uma preparação que vai além da decoreba de conteúdos. Esses espaços acolhem, escutam e fortalecem os estudantes, oferecendo não só suporte pedagógico, mas também emocional. Além das disciplinas exigidas nos vestibulares, muitos desses projetos promovem rodas de conversa, oficinas e debates sobre temas como desigualdade social, identidade, gênero, direitos humanos e cidadania. Isso contribui para a formação de sujeitos críticos e engajados com as transformações de seu território e da sociedade como um todo.


Iniciativas que estão fazendo a diferença


Várias favelas do Rio de Janeiro já contam com iniciativas potentes que têm mudado a vida de centenas de jovens: 


UniFavela (Complexo da Maré) – O Pré-vestibular social da UniFavela tem como objetivo popularizar o ensino no Complexo da Maré, impulsionando jovens e adultos, através de uma educação libertária, para que tenham acesso ao ensino superior. Assim, oferecendo ferramentas para “favelizar” espaços de construção de conhecimento acadêmico e não acadêmico. Ao longo de 4 anos o projeto impactou diretamente a vida de mais de 100 estudantes. Em 2018, 100% dos nossos estudantes foram aprovados na universidade e até 2022, 25 estudantes do pré-vestibular ingressaram no ensino superior.


Pré-Vestibular Comunitário da Rocinha (PVCR) – O Pré-Vestibular Comunitário da Rocinha funciona desde 1994 na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, preparando estudantes de baixa renda para prestar o ENEM e os principais vestibulares do estado, como UERJ e PUC-Rio. O objetivo do projeto não é inserir o maior número possível de estudantes na universidade, mas sim colocar o cidadão na universidade, tornando-o instrumento de modificação das estruturas sociais.


Pré-Vestibular Comunitário Marielle Franco – O Pré-Vestibular Comunitário Marielle Franco é uma iniciativa educacional do Instituto Caminhantes, criada com o objetivo de ampliar o acesso ao ensino superior para estudantes de baixa renda, especialmente aqueles residentes no Morro da Providência e na Zona Portuária do Rio de Janeiro. O projeto se baseia em valores como democracia, direitos humanos, laicidade do Estado, diversidade cultural e igualdade social, racial e de gênero. Inspirado no legado da vereadora Marielle Franco, símbolo da luta por justiça social e igualdade, o projeto busca combater as desigualdades educacionais e oferecer oportunidades de qualificação para jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica.


NICA Jacarezinho – O Núcleo Independente e Comunitário de Aprendizagem, NICA, é um  projeto de educação antirracista, multicultural e democrático, voltado para a população de baixa renda, principalmente moradora de favela e negra. Entendemos a educação como principal ferramenta de mobilidade social e construção de uma sociedade com igualdade de oportunidades e justiça racial para jovens e adultos(as), negras e negros de favelas e periferias. O NICA acredita que colocar jovens negros nas universidades públicas e particulares de todo o país é uma forma não só de transformar a vida daquele indivíduo, mas de transformar a realidade de toda comunidade. 


Rede Só Cria de Educação Popular (Rocinha) – A Rede Só Cria de Educação Popular é um projeto que carrega o Popular em seu nome e em sua prática. O projeto é uma rede de Educação Popular que atualmente atua com curso de pré-vestibular com polos na Favela da Rocinha e Barreira do Vasco, em São Cristóvão, além do curso de pré-encceja, na Favela da FICAP, na Pavuna. Eles lutam pela democratização do acesso da favela à educação de qualidade e aos espaços historicamente negados à população favelada.


Projeto Uerê (Maré) – O Projeto Uerê é uma escola, na Favela da Maré, com uma metodologia de ensino própria, desenhada para crianças e jovens que frequentam colégios públicos da Comunidade, com bloqueio cognitivos e emocionais devido à exposição constante a traumas e violência. O projeto oferece um complemento do Ensino Formal, com aulas de português, matemática, história, geografia, ciências e idiomas.


Pré-Vestibular Social Ação (UFRJ) – O Pré-Vestibular Social Ação é um projeto social gratuito, criado em 2015, que tem como objetivo ajudar estudantes a ingressarem em instituições de ensino superior públicas, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). As aulas são direcionadas a jovens egressos do ensino médio de escolas públicas e/ou bolsistas de colégios particulares que comprovem baixo poder aquisitivo e, também, a alunos trabalhadores e moradores das comunidades da Ilha do Governador, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro.


Projeto PECEP - O PECEP, Projeto de Ensino e Educação Cultural, é um projeto de educação que ocupa espaços ociosos voltados para o ensino, abrindo suas portas para estudantes pertencentes às classes populares. Hoje, o projeto utiliza o espaço da Escola Parque na Gávea, oferecendo aulas de segunda à sábado para estudantes do Rio de Janeiro. Com mais de 20 anos de história, o projeto atende a cerca de 70 alunos por ano, com mais de 100 voluntários, sendo 25% deles ex-estudantes do PECEP.


O que falta e o que pode avançar?


Esses projetos enfrentam desafios recorrentes: falta de recursos, ausência de apoio institucional e dificuldades logísticas. No entanto, são sustentados pela força da coletividade, do voluntariado e da urgência de mudança. Em 2024, o Ministério da Educação, em parceria com a Fiocruz, lançou um programa de reforço a pré-vestibulares populares, prevendo bolsas a estudantes, educadores e coordenadores. A medida representa um passo positivo, mas ainda tímido diante das demandas reais.


Os pré-vestibulares comunitários são muito mais que espaços de ensino: são trincheiras de transformação social. Ao garantir oportunidades reais de acesso à universidade para jovens de favelas e periferias, essas iniciativas combatem desigualdades históricas e constroem um futuro mais justo. Apoiar, divulgar e financiar esses projetos é investir em justiça social e romper com o ciclo da exclusão.


Referências


Pré-Vestibular Marielle Franco – WikiFavelas





Rede Só Cria – WikiFavelas





Programa do MEC e Fiocruz – Agência Gov


 
 
 

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