top of page
  • Whatsapp
  • Instagram
  • Facebook
  • LinkedIn

Histórias de Superação: Estudantes da favela que chegaram à universidade

A trajetória de jovens oriundos de favelas e periferias que conquistaram o acesso à educação superior é um reflexo da luta contra desigualdades históricas e da busca por oportunidades transformadoras. Essas histórias não apenas evidenciam os desafios enfrentados, mas também ressaltam a importância de políticas públicas, programas de apoio e a força de vontade individual. Apesar de sua relevância, o acesso à educação de qualidade ainda é um desafio em muitas regiões periféricas. Entretanto, é justamente nesse cenário adverso que a força da educação se revela. Projetos comunitários, ONGs, cursinhos populares e políticas públicas de inclusão — como o Prouni, o Fies e as cotas raciais e sociais — têm possibilitado que jovens das periferias ingressem em instituições de ensino superior, muitas vezes as mais renomadas do país. Esses mecanismos não apenas viabilizam o acesso, mas também promovem a permanência por meio de bolsas, auxílios e programas de apoio acadêmico.


O Caminho Até a Faculdade – Obstáculos e Resistência


Os obstáculos constantes na vida de milhares de estudantes que moram em favela não são apenas enfrentar escolas com infraestrutura precária, falta de professores qualificados, material didático insuficiente e a violência urbana. É também conviver com a insegurança, com o barulho das ruas e, muitas vezes, com a ausência de um espaço adequado para estudar. Além disso, muitos jovens dividem o tempo entre o colégio e o trabalho informal, ajudando na renda de casa. 


Além disso, as responsabilidades familiares precoces, como trabalhar para ajudar nas despesas de casa ou cuidar de irmãos, limitam o tempo e a energia que esses jovens podem dedicar aos estudos.  A pressão social também pesa: em um ambiente onde poucos acreditam ser possível chegar à universidade, a dúvida sobre o próprio potencial pode ser cruel. De acordo com a pesquisa, em 2023 a principal razão para o abandono dos estudos entre os homens foi a necessidade de trabalhar, com 53,5% dos casos. Já entre as mulheres, 32,6% abandonaram a escola no mesmo ano por gravidez e necessidade de realizar tarefas de casa ou cuidar de criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.


Programas de educação como ferramenta de transformação


A educação tem se consolidado como um dos pilares mais importantes para a promoção da equidade social e econômica em sociedades marcadas por desigualdades históricas. No contexto das favelas e periferias brasileiras, ela representa não apenas um direito constitucional, mas uma poderosa ferramenta de transformação individual e coletiva. Para muitos jovens, estudar é mais do que adquirir conhecimento; é sobreviver, resistir e construir alternativas para um futuro digno. O acesso à universidade por jovens de favelas começou a se tornar mais real graças a políticas públicas e iniciativas populares que abriram caminhos antes inacessíveis. As cotas raciais e sociais, por exemplo, foram uma virada histórica no Brasil. Elas não são “privilégios”, como ainda se ouve por aí, mas mecanismos de correção de desigualdades históricas.


Além das cotas, programas como o Prouni (que oferece bolsas em faculdades particulares), o FIES (financiamento estudantil) e o Sisu (acesso a universidades públicas por meio do Enem) têm possibilitado que jovens de baixa renda ingressem no ensino superior. Para quem nunca teve acesso à escola privada ou ao ensino de qualidade, esses programas são muitas vezes a única chance. Também merece destaque o papel de cursinhos populares e pré-vestibulares comunitários, criados dentro das próprias comunidades, muitas vezes por ex-alunos da periferia que chegaram à faculdade. Esses espaços não oferecem apenas conteúdo pedagógico, mas acolhimento, autoestima e senso de pertencimento. É ali que o jovem aprende que pode, sim, sonhar com uma universidade pública — e que aquele sonho não é impossível.


Exemplos inspiradores como o projeto Educafro, que tem como objetivo geral reunir pessoas voluntárias e solidárias para lutarem pela inclusão de pessoas negras, em especial, e pobres em geral, em universidades públicas, prioritariamente, ou em universidades particulares com bolsa. O UNEafro é um movimento  que se organiza em núcleos de atuação em diversas áreas. O trabalho mais conhecido deles são os cursinhos pré-vestibulares comunitários que atendem jovens e adultos oriundos de escolas públicas, prioritariamente negros/as, que sonham em ingressar no Ensino Superior e preparar-se para o ENEM ou Concursos Públicos. Outro exemplo inspirador, é o movimento social de educação popular, Emancipa, que atua há quase 15 anos e que antes era uma rede de cursinhos pré-vestibulares, porém com a diversificação de suas iniciativas o movimento se tornou um projeto de educação como prática para a liberdade.


Vozes de Superação – Depoimentos Reais


A presença de estudantes oriundos da periferia nas universidades representa mais do que números estatísticos. É a quebra de ciclos de pobreza, a construção de novas narrativas e a inserção de novas perspectivas no espaço acadêmico. E é preciso destacar ainda o papel simbólico da educação nesses contextos. Ser o primeiro da família a ingressar em uma universidade, muitas vezes, significa ser referência para toda uma comunidade. Cada conquista individual torna-se um ato coletivo de resistência e de esperança. Por isso investir em educação, especialmente nas regiões mais vulneráveis, deve ser uma prioridade para o Estado e para a sociedade como um todo.


Assim, a educação vai muito além de ensinar a ler, escrever ou fazer contas. Ela é um instrumento de emancipação, que possibilita ao indivíduo pensar criticamente, agir com autonomia e transformar sua realidade — e, por extensão, a de sua comunidade. Nada como ouvir de quem viveu. Essas histórias mostram que, mesmo diante de tudo que conspira contra, a determinação e o apoio certo podem mudar destinos.


Segundo a matéria publicada no site do O Globo, conhecemos a história de superação de Jean Victor, morador da comunidade do Rio Comprido, no Rio de Janeiro, que enfrentou desafios significativos durante a pandemia de COVID-19. Apesar das dificuldades, ele se dedicou aos estudos e foi aprovado em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conquistando a primeira colocação entre os cotistas. Seu desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi notável, com 822 pontos na nota final e 960 na redação. Desta forma, o jovem expressa sua gratidão e desejo de retribuição: "Eu só espero achar um bom emprego e conseguir comprar uma casa para a minha mãe."


De acordo com uma matéria publicada no site Agência Brasil, temos como exemplos a história da jovem Brena Carvalho, residente da Rocinha - um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro -, que buscou apoio no Pecep (Pré-Universitário Comunitário da Escola Parque), um cursinho popular que atende moradores de comunidades de baixa renda. Após um ano de dedicação, ela passou no vestibular e conseguiu entrar na Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, posteriormente, retornou ao Pecep como voluntária, contribuindo para a formação de outros jovens. Brena destaca a importância do curso em sua formação: "O Pecep me ensinou muita coisa. Foi onde eu criei muita consciência crítica e política. Vi que eu poderia expor minhas opiniões sem medo." 


Por fim, outro exemplo de inspiração foi publicado em uma matéria para o site Terra, que conta a história de Jhonatan Neves dos Santos, de 24 anos e, morador da favela São Remo, em São Paulo, que ingressou no curso de Educação Física na Universidade de São Paulo (USP) em 2024. Ele participou do Cursinho Popular Elza Soares, localizado dentro de sua comunidade, e superou obstáculos como a falta de recursos e a violência urbana para alcançar seu objetivo. Jhonatan destaca: "Levei pelo menos dois anos para entrar na USP", evidenciando a persistência necessária para vencer as adversidades.


Desta forma, as histórias de Jean Victor, Brena e Jhonatan ilustram que, apesar das adversidades, é possível alcançar a educação superior por meio de esforço pessoal, apoio comunitário e políticas públicas eficazes. Esses exemplos reforçam a importância de investir em programas que promovam a inclusão educacional e social, garantindo que mais jovens de favelas e periferias tenham acesso a uma educação de qualidade e possam transformar suas realidades.


Sonhos e Futuro – Onde Querem Chegar?


A universidade, para jovens de favela, não é o fim da linha — é o início de uma nova travessia. Depois de vencer barreiras sociais, emocionais, econômicas e educacionais, eles passam a enxergar horizontes mais amplos: concursos públicos, mestrados, doutorados, intercâmbios internacionais e até empreendedorismo social com impacto na quebrada. Mas há uma diferença marcante entre esses sonhos e os de quem cresceu em contextos privilegiados: a coletividade. Muitos desses estudantes não sonham apenas com o próprio sucesso, mas com formas de retribuir e transformar o território de onde vieram. O diploma é ferramenta — e não troféu.


Em algum lugar há jovens da periferia estudando políticas públicas para elaborar projetos sociais sustentáveis, outros fazendo pesquisa para desenvolver tecnologias acessíveis às comunidades, e muitos se preparando para serem professores em escolas públicas — justamente onde eles foram formados. Cada passo dado é também uma forma de devolver à favela tudo aquilo que ela ensinou: resiliência, solidariedade e criatividade. Mais do que ascender socialmente, esses universitários estão redefinindo o papel do saber na favela: não como privilégio distante, mas como ferramenta concreta de mudança.


Mas é preciso reconhecer: a superação individual não pode substituir a responsabilidade do Estado e da sociedade em garantir equidade. O esforço desses jovens é heroico — mas não deveria ser. Educação pública de qualidade, políticas afirmativas e investimento em juventude precisam deixar de ser exceção para se tornarem norma. A favela está produzindo médicos, engenheiras, poetas, cientistas, filósofos e profissionais de todas as áreas. Está produzindo futuro. Portanto, quando a favela conquista espaço na universidade, ela puxa o país inteiro rumo a um futuro mais justo e igualitário.


Referências


O Globo. (2020). Estudantes de origem humilde superam desafios da pandemia e chegam até a universidade. Recuperado de https://oglobo.globo.com/rio/estudantes-de-origem-humilde-superam-desafios-da-pandemia-chegam-ate-universidade-25009958


Agência Brasil. (2023). "Mudou minha visão de mundo", diz ex-aluna de cursinho popular. Recuperado de https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2023-05/mudou-minha-visao-de-mundo-diz-ex-aluna-de-cursinho-popular








 
 
 

Comments


bottom of page